Moinhos do rio Degebe – História e Memórias
Falar de moinhos, na atualidade, significa falar da história, da cultura, da evolução da sociedade e da vida do Homem, sendo dever dos cidadãos e do Estado protegê-los, estudá-los, descrevê-los e guardá-los em sítio onde possam ser recordados, conhecidos e valorizados como património. Com efeito, a Carta de Veneza, datada de maio de 1964, resultado de um importante congresso internacional sobre defesa do património, veio alargar a abrangência do conceito de património, alterando a noção de monumento histórico, que passou a englobar “a criação arquitetónica isolada, bem como o sítio, rural ou urbano, que constituísse testemunho de uma civilização particular, de uma evolução significativa ou de um acontecimento histórico. Esta noção aplica-se atualmente, não só às grandes criações, mas também às obras modestas do passado que adquiriram, com a passagem do tempo, um significado cultural” .
Estes moinhos são estruturas arquitetónicas e tecnológicas específicas, caracterizadoras da paisagem da região onde se inserem. Revelam vivências e relações harmoniosas entre homens que trabalhavam para o mesmo fim, em interação com o meio ambiente.
Um dos primeiros artigos sobre os moinhos portugueses foi de Sousa Viterbo, publicado no Archeologo Português em 1896, onde expressava a sua preocupação pelo desaparecimento deste tipo de património e a urgência de ser efetuado o levantamento e registo dos moinhos. Via-os, com “profunda saudade”, desaparecerem pouco a pouco, “sem que mão piedosa se lembre de apanhar estes restos, humildes mas gloriosos depositando-os depois em sítio onde possam ser cuidadosamente estudados e onde a curiosidade lhes preste o merecido culto” .
Passados mais de 100 anos, o tempo agravou esta visão de Sousa Viterbo, dada a existência de um elevado número de moinhos abandonados e completamente esquecidos, sendo o grande objetivo deste trabalho “apanhar os restos humildes, mas gloriosos” do que resta dos moinhos de água do rio Degebe.
Esta exposição intitulada “Moinhos do Rio Degebe – História e Memórias”, foi realizada no âmbito do Projeto Nº 251 do Programa do Orçamento Participativo de 2017, executado pela Direção Regional de Cultura do Alentejo, em parceria com o CIDEHUS – Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades, da Universidade de Évora.
O grande objetivo deste Projeto é salvaguardar e dar a conhecer, através de registos documentais, fotografias e memórias orais, o que ainda resta em termos tecnológicos, arquitetónicos e históricos deste património molinológico, em perigo iminente de desaparecer. Para isso foi realizado um levantamento e inventário dos 30 moinhos de água que existiram no rio Degebe, cuja realização se tornava urgente, devido ao seu valor histórico-cultural e ao facto de se encontrarem em muito mau estado de conservação.
