2º Encontro Cidades, Arquitetura e Arquivos no Contexto Ibérico

2º Encontro Cidades, Arquitetura e Arquivos no Contexto Ibérico: programa e notas biográficas

Na próxima quinta-feira, dia 29 de Outubro de 2020, no Centro de Informação Urbana de Lisboa (CIUL), ocorrerá o 2º Encontro Cidades, Arquitetura e Arquivos no Contexto Ibérico.

Esta iniciativa é coordenada cientificamente por Paulo Batista e Ricardo Agarez, investigadores do CIDEHUS.UE, é uma organização conjunta do CIDEHUS, do Centro de Informação Urbana de Lisboa (CIUL) e da Secção de Arquivos de Arquitetura do Conselho Internacional de Arquivos (ICA-SAR), contando ainda com a parceria da Fundação Calouste Gulbenkian.

O evento está organizado em quatro panéis, a seguir descritos com as notas biográficas dos respetivos autores.

 

Painel I: Exp(l)or(ar) Arquivos, Arquitetos e suas Sombras: de Lisboa a Berlim, via Barcelona

 

Os Segredos da Cidade: A Importância dos Arquivos para a Reconstrução da História da Arquitetura Contemporânea Patrícia Bento d'Almeida, ISCTE-IUL, DINÂMIA’CET - IUL, Lisboa, Portugal

 Esta comunicação tem como objetivo dar a conhecer o conjunto de arquivos pessoais e públicos consultados para a elaboração de três trabalhos de investigação científica: 1) A obra do atelier dos arquitetos Victor Palla e Joaquim Bento d’Almeida; 2) O panorama urbanístico e arquitetónico do(s) bairro(s) do Restelo; 3) O Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) e a investigação científica em arquitetura e urbanismo.

Uma coleção de rolos de projetos de arquitetura e uma incompleta lista de obras serviram de impulso para dar início a um incessante trabalho de inventariação da obra do atelier dos arquitetos Palla e Bento d’Almeida. O espólio deixado por esta dupla de arquitetos ofereceu um manancial de informação que oportunamente foi confrontado e completado com o material depositado em diversos arquivos municipais, particularmente os pertencentes ao município de Lisboa (nomeadamente Arco do Cego, Intermédio e Fotográfico), bem como nos arquivos das Escolas de Belas Artes (Lisboa e Porto) e do Museu do Azulejo. Arquivos pessoais e a memória de alguns arquitetos, historiadores e clientes que com eles privaram foram também considerados. Redescobrir a história deste atelier promoveu a descoberta de alguns dos segredos da cidade de Lisboa. Para compreender a razão pela qual, durante as décadas de 1950 e 1960, Palla e Bento d’Almeida projetaram mais de meia centena de moradias unifamiliares para o Restelo, analisaram-se os planos urbanos e os projetos de arquitetura elaborados para esta área da cidade. Para esta pesquisa revelaram-se cruciais as consultas efetuadas aos arquivos municipais e de património cultural e de arquitetura depositados no Forte de Sacavém e, recentemente, para o estudo da arquitetura e do urbanismo no LNEC e a sua importância para a história da investigação científica em Portugal.

Patrícia Bento d'Almeida é arquiteta, com mestrado (2007) e doutoramento (2013) em História da Arte Contemporânea pela Universidade Nova de Lisboa. Atualmente é Investigadora Integrada no DINÂMIA'CET-IUL, Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e o Território do ISCTE- Instituto Universitário de Lisboa, onde desenvolve o Projeto de Pós-Doutoramento intitulado O LNEC e a História da Investigação em Arquitectura (desde maio de 2016). Os seus principais interesses de pesquisa incidem na história e na teoria da arquitetura e do urbanismo contemporâneos, com enfoque nas metodologias de investigação e utilização de recursos arquivísticos. Os principais resultados das suas pesquisas têm sido publicados em artigos científicos e monografias, e divulgados em conferências nacionais e internacionais. A dedicação ao estudo da obra dos arquitetos Victor Palla e Bento d’Almeida conduziu ao comissariado da exposição Victor Palla e Bento d’Almeida. Arquitectura de outro tempo, patente no Centro Cultural de Belém (2017). 

 

The Archival Evidence as an Antidote against Accepted Knowledge: Lilly Reich’s Work in Barcelona Laura Martínez de Guereñu, IE University, Segovia / Madrid, Spain

The two outcomes of the research project “Re-enactment: Lilly Reich’s Work Occupies the Barcelona Pavilion”—a scientific article and an art intervention, developed under the auspices of the first Lilly Reich Grant for the Equality in Architecture—have been anchored on evidence found in archives of more than twenty cities of Germany (Berlin, Dessau, Frankfurt am Main, Weimar), North America (Montréal, New York, Washington DC), and Spain (Barcelona, Madrid). Each of them was targeted to a different audience—the scholars interested in the history of architectural modernism and the broader public of exhibitions—to be able to offer a long-overdue recognition beyond the professional and academic setting and to submit Lilly Reich’s contribution to a wider critical judgment with society at large. The archives—not only of architecture, design, and art, but also of commerce, industrial property, and international relationships—have been irreplaceable allies for developing the always difficult labour of credit recognition and for putting Lilly Reich in the right position in her collaborative relationship with Mies. This paper will show the way different documents (letters, maps, plans, photographs, postcards, snapshots, film footage, patent applications) discovered over the years have contributed to show novel sides to generally accepted knowledge and have managed to accredit authorship otherwise relegated to oblivion.

Laura Martínez de Guereñu is an architect, design critic, and associate professor at IE University, Madrid-Segovia, Spain, who studies the status and the significance of the architectural, artistic, and design object that lead to a reassessment of the exchanges and transnational discourses during modernism. Laura’s essays have been published in a number of periodicals and edited volumes, and her work as an editor encompasses Bauhaus In and Out: Perspectives from Spain (AhAU, 2019) and Rafael Moneo: Remarks on 21 Works (The Monacelli Press, 2010). She currently holds a Humboldt Research Fellowship for Experienced Researchers hosted by the TU Munich, Germany, and has been a grantee of the first Lilly Reich Grant for Equality in Architecture (Mies van der Rohe Foundation).

Painel II: Os Arquivos de Arquitetura: Das Diretrizes à Difusão

La Sección de Documentos de Archivo de Arquitectura en el Consejo Internacional de Archivos Yolanda Cagigas Ocejo | Sección de Documentos de Archivo de Arquitectura del Consejo Internacional de Archivos (ICA-SAR), Pamplona / Navarra, España

El Consejo Internacional de Archivo (ICA) cree que la gestión eficaz de archivos es una condición previa esencial para el buen gobierno, el estado de derecho, la transparencia administrativa, la preservación de la memoria colectiva de la humanidad y el acceso a la información por parte de los ciudadanos. En esta comunicación se hace una breve síntesis del ICA: historia, objetivos, principales iniciativas, organización y gobierno, miembros, recursos técnicos y formativos, eventos, programas de ayuda, congresos internacionales, etc… El núcleo básico de los beneficios para los miembros de ICA está relacionado con las secciones. Cada sección está especializada en un área de la práctica profesional, y para ello existen 12 secciones en activo que cubren temas muy diversos. La comunicación se centra principalmente en dar a conocer la Sección de Archivos de Arquitectura (SAR), cuyo principal objetivo es la promoción de los documentos de Arquitectura en todo el mundo.

Yolanda Cagigas Ocejo es Doctora en Historia Contemporánea por la Universidad de Navarra. Máster en Archivística por la Universidad de Sevilla y Licenciatura en Geografía e Historia, especialidad de Historia Contemporánea por la Universidad de Valladolid. Directora del Archivo General de la Universidad de Navarra desde su creación (2005) hasta la actualidad. En el International Council on Archives (ICA) es miembro de su Comité Ejecutivo como Presidenta de la Section Architectural Records (SAR) la Sección Profesional de Archivos de Arquitectura desde 2016. También es Miembro del Consejo Editorial de la International Scientific Review for Contemporary Archival Theory and Practice (ATLANTI). Ha publicado más de una veintena de artículos en revistas nacionales e internacionales sobre Archivística, Historia de la Universidad de Navarra e Historia Contemporánea, las dos últimas áreas vinculadas a los fondos del Archivo General de la Universidad de Navarra

 

Arquivos de Arquitetos no Arquivo Municipal de Lisboa  Helena Neves | Arquivo Municipal de Lisboa, Portugal

 Na comunicação apresenta-se o Arquivo Municipal de Lisboa como um serviço de informação e de memória. Em particular dá-se conta da política de aquisição de espécies e de coleções com interesse documental para o Arquivo Municipal na prossecução da sua missão de recolher, guardar, tratar e preservar a documentação relativa à memória da cidade. Apresentam-se os arquivos particulares de arquitetos que foram adquiridos, evidenciando o seu interesse para a memória coletiva da cidade, para a complementaridades das fontes do Arquivo Municipal e para a salvaguarda do património. Assinalam-se os contextos, percursos e modalidades de aquisição, bem como o tratamento documental efetuado e as formas de divulgação destes arquivos.   

Helena Neves é Licenciada em História pela faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, com Pós-Graduação em Ciências Documentais, opção Arquivo, pela mesma Universidade.  Iniciou a sua atividade profissional em 1989, no Arquivo da Câmara Municipal de Lisboa, onde assumiu a coordenação de diversas equipas. Neste âmbito, foi responsável pela definição de requisitos funcionais para o desenvolvimento de soluções tecnológicas de gestão documental, produziu manuais de procedimentos e acompanhou o início da digitalização dos processos de obras particulares. Em representação da CML participou nos projetos de elaboração da Norma Portuguesa NP 404, na elaboração da Portaria 412/2001, de 17 de abril, que aprova o Regulamento Arquivístico para as Autarquias Locais, na elaboração da Lista Consolidada de Processos de Negócio para a Administração Pública bem como no projeto de Avaliação Suprainstitucional de Informação Arquivística (ASIA), projeto este a contemplar na Medida 51 do Simplex + (Arquivo Digital), coordenado pela DGLAB. É Chefe de Divisão do Arquivo Municipal de Lisboa, desde 2017.

 

Painel III: Arquitetos e Não-Arquitetos em Arquivos: Cruzamentos e Possibilidades

Das Casas de Férias aos Grandes Conjuntos Habitacionais do Arquitecto Justino Morais: Uma Viagem pelos Arquivos João Cardim, ISCTE-IUL, Lisboa, Portugal

A presente comunicação centra-se na experiência do autor – arquitecto de formação – no campo da pesquisa em arquivo, no âmbito de investigações de mestrado integrado e de doutoramento, e abrange cerca de dez anos de investigação não contínua.  A apresentação divide-se em duas partes que se complementam: a primeira, que deriva da investigação de mestrado, é relativa a pesquisa em arquivo camarário (Câmara Municipal de Sintra), incidindo no levantamento exaustivo de moradias de férias na Freguesia de Colares, edificadas entre 1940 e 1974, e na sua relação com o trabalho de campo – visita e registo fotográfico dos melhores exemplares identificados. Esta investigação despontou a oportunidade de estudar o espólio pessoal de um arquitecto em concreto, e daí nasceu o tema do doutoramento. Assim, a segunda parte desta apresentação centra-se no pré-inventário, em fase de conclusão, do espólio do arquitecto Justino Morais (1928-2011), actualmente integrado no arquivo do SIPA – Forte de Sacavém. Apesar do título provisório do doutoramento – “Da Célula à Cidade: Composição Modular e Planeamento Urbano na Obra de Justino Morais (1966-1975)” – indiciar uma escolha mais estreita dos projectos deste arquitecto, tornou-se inevitável o levantamento total da sua obra, em grande medida desconhecida, uma vez que tal se mostrou essencial para uma avaliação correcta da amostragem a seleccionar tendo em vista uma análise mais aprofundada.Procurar-se-á relacionar o levantamento em arquivo com a identificação dos casos de estudo no terreno, bem como explicitar a variedade de documentação inventariada e a sua importância na construção dos temas a explorar no doutoramento. Torna-se igualmente importante aferir os limites deste tipo de levantamento em arquivo e a maneira como um espólio pessoal pode ser complementado através de investigações noutros arquivos, noutros suportes e no próprio terreno.

 João Cardim é Mestre em Arquitectura pelo ISCTE-IUL (2011) e doutorando em Arquitectura dos Territórios Metropolitanos Contemporâneos na mesma universidade, onde se encontra, desde 2017, a desenvolver o projecto de tese “Da Célula à Cidade: Composição Modular e Planeamento Urbano na Obra de Justino Morais (1966-1975)”, enquanto bolseiro de doutoramento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Colaborou em vários projectos de investigação, co-organizou congressos internacionais e exposições e editou publicações. Participou como orador em congressos na área da arquitectura e urbanismo em Portugal, Itália, Brasil, Reino Unido e Israel, tendo artigos publicados em livros, revistas internacionais, actas de encontros científicos e jornais culturais portugueses.Estagiou na Divisão de Reabilitação Urbana da Câmara Municipal de Lisboa (2012) e em diversos ateliers de arquitectura. Foi igualmente bolseiro da Universidade Lusíada no Gabinete do Centro Histórico da Câmara Municipal de Santarém (2016).

 

Manuel Laginha: Um Autor, Vários Arquivos Diogo Costa, Universidade Lusíada de Lisboa, Portugal

O estudo e resgate histórico de um qualquer tema depende, intrinsecamente, das características e qualidades das fontes documentais disponíveis sobre o mesmo. No campo da arquitetura moderna portuguesa de meados do século XX, essa investigação é possibilitada e fortemente alicerçada na documentação existentes em Arquivos Municipais e espólios pessoais dos arquitetos em questão, sem, no entanto, esquecer ou desvalorizar uma ampla gama de outros arquivos e fontes, escritas ou em registos menos convencionais. Partindo do caso concreto de uma investigação académica sobre a obra do arq. Manuel Maria Cristóvão Laginha (1919-1985), pretendemos dar testemunho da dispersão e diversidade de fontes que documentam a obra de um autor e da realidade encontrada nos vários Arquivos consultados, analisando a sua diversidade, conteúdos, potencialidades e lacunas de cada um, condições de depósito, tratamento, consulta e de que maneira se podem relacionar entre si,  questionando ainda as consequências dessa dispersão e disparidade na prossecução de trabalhos de investigação desta natureza. Através da apresentação de alguns casos de estudo, enunciaremos exemplos em que diferentes arquivos e fontes se complementam, ‘dialogam’ ou, inclusive, se contradizem, denunciando a relevância de uma consulta plural e do cruzamento crítico das múltiplas fontes existentes para uma mais fidedigna compreensão e narração dos processos que documentam.Laginha é, de resto e por maioria de razão, um caso paradigmático dessa dispersão de fontes, pela diversidade geográfica da sua obra (construída em diversos municípios do Algarve, da região de Lisboa e, inclusive, em Itália) e pelo seu multifacetado percurso profissional onde se cruzam arquitetura e urbanismo: o exercício liberal da profissão de arquiteto a título individual ou através de parcerias formais ou informais – e nem sempre assumidas – , com figuras centrais da arquitetura moderna portuguesa e com projetistas locais no Algarve; as funções de urbanista e apreciador público em serviços municipais e estatais; e até uma importante faceta associativa.

Diogo Costa é aluno do curso de mestrado integrado em arquitetura na Universidade Lusíada de Lisboa. Atualmente a escrever a dissertação de final de curso, subordinada ao tema “Manuel Laginha (1919-1985): obra e influência na arquitetura moderna algarvia”, sob orientação do Prof. Dr. Arq. Rui Manuel Reis Alves. Colaborou no atelier Ôco, em Lisboa, entre Outubro de 2017 e Março de 2018.

 

  Painel IV: Das convergências entre os arquivos de arquitetura e coleções fotográficas ao inventário das tipologias edificadas

Arquivos de arquitetura e coleções fotográficas: relações e ligações potenciais. O caso das coleções da Biblioteca de Arte e Arquivos Gulbenkian Ana Barata | Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal

O registo fotográfico (no duplo estatuto de imagem e técnica) constitui fonte privilegiada para o estudo de outros bens patrimoniais, designadamente do património arquitetónico. Por outro lado, esse registo é, enquanto produto de civilização, na sua essência, pela sua própria natureza técnica, primeiro que qualquer outra coisa, primeiro que uma obra de arte - embora o fosse desde bastante cedo -, mnemónica. Conserva a memória da imagem dos indivíduos, das paisagens, dos edifícios e dos mais variados objetos no momento em que os destaca da massa civilizacional pela atenção que lhes consagra no ato de os reproduzir e registar. Porque é um meio mecânico de captação e reprodução da realidade, aparentemente menos subjetivo que a mão humana, deu azo à convicção que as memórias conservadas pelas suas imagens eram as mais fiéis às realidades que reproduziam ou que lhes serviram de referentes. Por esta razão, compreende-se que a arquitectura tenha sido, desde bastante cedo, um dos temas mais recorrentes da imagem fotográfica. Aquilo que o desenho e a gravura representam, a imagem fotográfica reproduz. Ao fazê-lo, reforça a sua função pedagógica de levar o conhecimento do que é imóvel, do que não pode ser deslocado, até aos indivíduos nas paragens mais distantes, até à intimidade doméstica. A imagem fotográfica permite estabelecer a biografia do edifício, a sua história particular, assinalando as transformações que foi sofrendo ao longo do tempo, desde, pelo menos, da primeira vez em que foi fotografado. Nesta comunicação pretende-se abordar estas questão tomando como objetos de estudo as coleções fotográficas e os arquivos de arquitectura dos acervos da Biblioteca de Arte e Arquivos Gulbenkian.

Ana Barata é Licenciada em História, variante em História da Arte, pela FCSH/NOVA (1985) e Mestre em História da Arte Contemporânea pela mesma instituição, com a dissertação “Lisboa 1860-1930: Realidades, desejos e ficções” (2000). Pós-Graduação em Conservação e Recuperação em Edifícios e Monumentos pela FAUTL (1986),  Curso de Especialização em Ciências Documentais, opção Biblioteca, pela FLUL (1990) e pós-graduação em Gestão Cultural nas Cidades no INDEG/ISCTE (2002). Bibliotecária na Biblioteca Nacional (1991-1997). Bibliotecária do quadro da Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian (desde 1997). Tem artigos publicados sobre história da arte e história urbana de Lisboa na transição do século 19. Foi colaboradora permanente da Revista LXMetrópole, dirigida por José Sarmento de Matos.

O formaurbis LAB e o Atlas Morfológico da cidade portuguesa Sérgio Padrão Fernandes, Universidade de Lisboa, Faculdade de Arquitetura, CIUAD, formaurbis LAB, Portugal

Esta comunicação apresenta os resultados do Atlas Morfológico que tem vindo a ser construído durante a última década na Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa. Propõe uma reflexão sobre um processo de investigação da forma da cidade que estabelece uma síntese entre os arquivos municipais, repositório privilegiado dos projectos originais, dos processos de obra, etc, e o levantamento “in situ” da cidade construída, entendida como repositório do conhecimento de si própria. Em 2018 o grupo de investigação “Forma Urbis LAB” ganhou uma bolsa de investigação da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (PTDC/ART-DAQ/30110/2017) para desenvolver um extenso inventário das tipologias edificadas em Portugal que abordam o capítulo final do Atlas. Assim, após a realização das várias fases anteriores de investigação será possível, pela primeira vez, realizar uma abordagem articulada entre todas as componentes do tecido urbano – o traçado urbano, a praça, a rua, o quarteirão, a parcela, o edifício – tendo como caso de estudo cerca de 100 cidades portuguesas. O projeto do Atlas Morfológico da cidade portuguesa visa satisfazer três objetivos principais. O primeiro é fornecer um instrumento didático e pedagógico para o estudo e ensino da arquitectura e do urbanismo, que se mostrará tão fundamental quanto a própria cartografia. A segunda é disponibilizar uma ferramenta que possa ser usada no âmbito da prática profissional, que propõe uma tipologia de formas e de elementos, i. e., exemplos tangíveis e conhecidos que são tratados de modo a que possam ser tomados como referência para uma formulação conceptual onde a transferência implique a construção de uma realidade análoga. O terceiro e mais ambicioso objectivo é a constituição de uma base de dados exaustiva de informação disponível, que permita a toda a comunidade científica ter acesso a uma fonte única de material para a realização e extensão de investigação no âmbito da morfologia urbana, tendo como recurso a forma da cidade portuguesa.

Sérgio Padrão Fernandes é Arquitecto (2001) pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa e Doutor em Urbanismo pela Universidade de Lisboa com a tese “Génese e Forma dos Traçados da cidade portuguesa. Morfologia, Tipologia e Sedimentação”. É atualmente Professor Auxiliar da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa e investigador integrado, membro fundador do grupo formaurbis LAB / CIAUD – Centro de Investigação em Arquitetura Urbanismo e Design. Desde 2006 tem-se dedicado à investigação sobre a forma da cidade, publicando regularmente em livros ou artigos no âmbito da morfologia urbana e apresentando comunicações em encontros científicos da especialidade. Em 2009 recebeu o prémio Internacional Ignasi de Lecea 2007-2008, atribuído pelo Public Art and Urban Design Observatory of the University of Barcelona, e o Prémio José de Figueiredo pela Academia Nacional de Belas Artes.

Publicado em 23.10.2020