Sobre a minha experiência pessoal em arquivos

A investigadora Leonor Dias Garcia partilha suas experiências em diferentes arquivos portugueses, com destaque para o desafio da conservação dos documentos e a sua utilização em suporte digital

Dei os primeiros passos na investigação no ano de 2008, no Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), em Lisboa, enquanto aluna do mestrado em Paleografia e Diplomática da FLUL. Seguiram-se diversos projetos na área da História e, pelo caminho, a Torre do Tombo foi sempre um lugar constante, uma segunda casa. É por isso um arquivo que muito estimo, um lugar de partilha e de crescimento pessoal, de amadurecimento académico e de amizades que permaneceram. Também já tive oportunidade de pesquisar no Arquivo Histórico do Banco de Portugal, na Biblioteca Nacional de Portugal, na Biblioteca da Ajuda, no Arquivo da Universidade de Coimbra e no Arquivo Distrital de Évora. E se há algo que estas experiências têm ensinado é que não existem dois arquivos iguais. Não me refiro à organização de fundos e de conteúdos, mas ao acesso aos acervos e às práticas permitidas ao leitor.

Comparando diferentes organismos, muitas vezes oscila-se entre a facilidade relativa e a interdição total, esta última especialmente no caso do ANTT. É de lamentar que por vezes existam dias inteiros de trabalho totalmente perdidos, devido à recente política aplicada aos documentos em mau estado de conservação. Quando tal sucede, aprendi que a via mais simples é sempre a da comunicação direta com a equipa de Conservação e Restauro, pois dessa forma é possível discutir tempos e estratégias para agilizar a consulta, mediante as necessidades do leitor e a capacidade da equipa. No entanto, e infelizmente, é cada vez mais frequente esbarrar com entraves à pesquisa, o que limita, por vezes de forma grave, o normal correr da investigação.

Porém, e relativamente aos arquivos em geral, têm-se feito avanços consideráveis na digitalização e, mais recentemente, na liberdade de o investigador poder fotografar os documentos de que necessita. Estas ferramentas vieram agilizar a investigação, especialmente perante vicissitudes como a que presentemente vivemos. Terá o seu revés, que é o de privar o investigador do contacto direto com a fonte, principalmente em situações em que esse contacto é imprescindível, pois a digitalização não pode nem deve ser vista como uma solução absoluta e definitiva para o labor histórico.

 

Leonor Dias Garcia

Publicado em 12.06.2020