O Arquivo Nacional da Torre do Tombo e a investigação em História Medieval

A investigadora Ana Pereira Ferreira traz o relato em primeira pessoa sobre a utilização dos arquivos da Torre do Tombo na investigação em História Medieval.

O investigador em História medieval tem a benesse de frequentar os arquivos em busca de fontes da época. A minha primeira experiência reporta-se a 2008, quando entrei pela primeira vez no arquivo dos arquivos, a Torre do Tombo; o primeiro passo foi saber que fundos existiam e como os pedir para consultar. De então para hoje, em pouco mais de 10 anos, o arquivo foi-se adaptando às tecnologias digitais, tendo online a indicação dos fundos e alguns documentos digitalizados. 

A emoção de ter em mãos um pedaço de pele – o pergaminho – com mais de 600 anos é única. Cada documento é visto por dezenas ou centenas de pessoas, mas cada uma delas tem as suas próprias questões a colocar ao registo escrito. No meu caso atual, a recolha de informação sobre as carreiras dos tabeliães que escreveram aqueles instrumentos públicos é o enfoque. Recorro a um Excel, onde tenho parametrizadas as questões a que quero que cada documento responda. No final, haverá a análise e tratamento da informação recolhida em meses de trabalho e milhares de documentos analisados.

Porém, são também frequentes os entraves e desafios que os arquivos nos colocam à investigação: o mau estado de conservação de alguns documentos, nomeadamente os que são já feitos em papel ou os pergaminhos que estão cosidos em livro, são um problema a quem já tem, por definição, poucas fontes para analisar, fruto do passar dos tempos.

A tendência para a digitalização é o futuro, o que por um lado facilita a leitura a partir de qualquer local, protegendo ademais o documento único e o seu valor inestimável, mas é uma perda para os sentidos do historiador: deixa de analisar também com o olfato, o tato e, sem dúvida, uma forma diferente com a visão, sendo ainda muito mais fácil de ler um original em mãos, do que uma digitalização. Mas tal é essencial, para que no futuro as gerações vindouras continuem a conseguir obter respostas das perguntas que queiram fazer ao documento. 

 

Ana Pereira Ferreira

Publicado em 12.06.2020