Dia Internacional dos Museus - 18 de Maio de 2020

O tema do Dia Internacional dos Museus de 2020 questiona o museu como promotor de igualdade, o que por vezes parece ser apenas retórico. Neste texto, o Prof. João Brigola propõe reflexões sobre como diversidade e inclusão podem pautar práticas museológicas.

Desde 1977 que o Conselho Internacional dos Museus (ICOM), organismo não governamental criado no âmbito da UNESCO, propõe um tema agregador de atividades a realizar no Dia Internacional dos Museus, comemorado anualmente a 18 de Maio.

A proposta que deve conduzir os museus de todo o mundo à reflexão sobre as suas práticas incide neste ano de 2020 nas questões da igualdade, diversidade e inclusão. A proposta deste tema encontra-se em linha com as preocupações de um sector influente nos meios museológicos, corporizado na recente proposta de alteração da definição de Museu, apresentada e discutida, mas não aprovada, na Assembleia Geral do ICOM, na cidade japonesa de Quioto, em Setembro de 2019. 

Seria importante aguardar pelo levantamento das atividades realizadas neste ano, mesmo se fortemente condicionado pelas imposições sanitárias e proceder-se então à avaliação das reflexões e das atividades propostas pelos diferentes museus em torno deste tema claramente fraturante. Porque, em nossa opinião, importaria separar as águas entre os que genuinamente apostam na qualificação do produto oferecido aos públicos - sem contudo subverterem a natureza conceptual do museu  - e os que, falhos de cultura histórica e profissional, almejam tão só colocar o mundo da museologia condicionado pelos temas da voga identitária - o género e o puritanismo ético e estético, a raça e o pós-colonial – mas igualmente o revisionismo científico e o preconceito religioso. O posicionamento sobre algumas destas ideias e valores no espaço público tende a polarizar-se e, por isso, deverá imperar a firmeza e a sensatez, exigindo-se às equipas técnicas que mantenham o debate alicerçado em claras e sólidas opções. 

Em abono da generalidade dos museus, é necessário lembrar que esse processo cultural e antropológico, de quebra das fronteiras da discriminação, tem vindo a ser feito de forma subtil e gradualista, resgatando ao esquecimento das reservas obras de arte ou documentação científica - de reconhecida qualidade – da autoria ou de mulheres ou de minorias étnicas ou de tradições não-ocidentais. O ponto aqui, importa sublinhar, é a reavaliação criteriosa do cânone e nunca a inaceitável atitude de elaborar narrativas expositivas pelo empobrecedor critério identitário. Nesta orientação se insere a contratação de crescente número de mulheres e de pessoas de minorias étnicas para cargos de direção, ou curadorias, em museus de influência, certamente em função das suas indiscutíveis capacidades profissionais.

João Brigola

Publicado em 18.05.2020