A Minha Investigação
Entrevista a Ana Isabel Queiroz

Ana Isabel Queiroz é investigadora do CIDEHUS e desenvolve o seu trabalho na área das Humanidades Ambientais

Em poucas palavras, quem é a Ana Isabel e o qual o seu percurso?

Sou uma mulher de 57 anos, mãe de dois filhos maiores. Tenho um percurso académico e profissional que se iniciou nas Ciências Naturais e na Conservação da Natureza e da Biodiversidade. O meu doutoramento em Arquitetura Paisagista (2007, FCUP) foi um marco num percurso de aproximação às dimensões culturais, sociais e estéticas do conhecimento, que já vinha aliando às dimensões naturais.



Qual o trabalho que realizou que considera mais impactante e porquê?

Ainda hoje, e volvida uma dúzia de anos, é o trabalho que realizei aquando do doutoramento que me parece ter tido mais impacto na sociedade. Estudei a evolução da paisagem rural da Beira Alta ao longo do século XX, usando uma combinação de fontes que incluíam a literatura e a cartografia histórica. Digo que foi o mais impactante sobretudo pelos ecos que me chegam da comunidade local. É uma enorme satisfação saber que essa investigação ajuda a compreender a realidade e apoiar a decisão. Com outros projetos no domínio das Humanidades Ambientais, o meu trabalho teve um outro tipo de impacto nacional e internacional, mercê dos livros e artigos publicados. Destaco o livro Histories of Bioinvasions in the Mediterranean (2018, Springer), e o artigo “Iracema’s Country: Nature from the Mid-1800s to the Present in Ceará, Brazil” (Interdisciplinary Studies for Literature and Environment, 2019).

 

Que papel podem desempenhar as Humanidades Ambientais, dentro e fora da academia?

Os problemas ambientais da atualidade questionam a sociedade como um todo, nomeadamente em matéria de clima e preservação da biodiversidade, estão nos discursos das mais credíveis autoridades científicas, políticas e religiosas, e são-nos mostrados com números crescentemente alarmantes. Mas o que nós humanos acreditamos e valorizamos, e o que estamos dispostos a fazer para alcançar certos objetivos, está fora do domínio do cálculo científico. Daí que, para entender estas complexidades, se imponha uma reflexão que envolva a história, a filosofia, a estética, a literatura, os estudos religiosos, artísticos e de comunicação, informada pela recente investigação das ciências naturais e da sustentabilidade.


As Humanidades Ambientais estão apostadas em eliminar a dicotomia artificial que afasta os estudos sobre “natureza” e “cultura”, valorizar a diversidade em todas as suas formas e expressões, e observar e analisar as questões de justiça, desigualdade e opressão subjacentes a diversas formas de violência política e económica. Abre-se uma releitura das fontes da historiografia económica, social e cultural. Como elemento de análise diacrónica, emerge a relação biunívoca dos humanos com os não-humanos e com os elementos físicos e químicos do seu meio envolvente, com integração de novos conhecimentos e metodologias.

Recentemente, um grupo de investigadores e docentes de 20 diferentes universidades e institutos (2019, Environmental Humanities) pretendeu lançar o diálogo acerca de desafios e oportunidades de lecionação criadas pela emergência ambiental. Trata-se de um texto inspirador para qualquer universidade que, como a de Évora, acolhe departamentos de uma grande pluralidade de disciplinas.

 

Conheça melhor o percurso e o trabalho da investigadora AQUI

 

Publicado em 22.01.2020